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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Quais são as consequências sociais do excesso de peso?


“Pessoa roliça, bem fofinha, fortinha” etc. Tantas perífrases para designar de maneira menos ou mais indireta aquilo que o médico chama pura e simplesmente de excesso de peso. Só a palavra “obesa” parece tabu. Sua conotação é negativa: pode-se até reconhecer que se está um pouco gordo, mas jamais obeso!

Contudo, o excesso de peso não é apenas objeto de eufemismos.

Ele também provoca comentários menos ou mais cortantes. Entretanto, para além das palavras, há igualmente a punhalada permanente que o olhar dos outros representa para a pessoa obesa: sair de casa, esse casulo protetor, torna-se às vezes um verdadeiro calvário.

Qualquer escadinha já faz o obeso suar em bicas, ele não pode se acomodar em muitos assentos (pequenos ou frágeis demais), viajar na classe econômica é um suplício etc. Tudo se torna problema. Quem é portador de alguma deficiência física pode deparar com o mesmo tipo de obstáculo… O deficiente, porém, costuma despertar compaixão, pois não é responsabilizado por seu estado. Já o obeso não. Sua obesidade lhe é imputada: ele só pode ser culpado de desleixo.

Diante de tal raciocínio, a pessoa obesa experimenta um grannde sofrimento e tem a impressão de viver num mundo hostil, que a julga e rejeita o tempo todo. Esse sentimento de exclusão, de incompreensão, deve-se à intolerância não apenas social, mas às vezes também médica, da qual o obeso é vítima. Sentindo-se malquisto, ele acaba por não aceitar a si mesmo e sua falta de autoconfiança vai se refletir na sua visão de vida. A baixa auto-estima é quase constante entre os obesos.

Nossa sociedade é “lipófoba”: não gosta de gordura. Na busca de emprego, por exemplo, os “gordinhos” costumam encontrar mais dificuldade do que as outras pessoas. Os empregadores preferem as silhuetas esbeltas e dinâmicas!

Não é novidade que o peso seja sinal de distinção. No século XIX, porém, apreciava-se a corpulência nas classes “superiores”: a gordura, até a obesidade, era mesmo símbolo de riqueza e sucesso para o homem, pois provava que ele estava longe da pobreza.

Também hoje, o culto ao corpo esbelto não é apenas de ordem estética. Ele tem significado social: é a marca de uma pessoa ativa, dinâmica, que sabe administrar a própria vida. O corpo esbelto se tornou sinal de êxito, até de certa riqueza.

Em virtude da pressão social, assim como de sua própria angústia, a pessoa que sofre de um excesso de peso considerável tem muitas vezes a “necessidade” de ser ouvida, e se possível compreendida, antes de querer saber de números. Com freqüência, se ela toma a iniciativa de consultar o médico ou um nutricionista, só lhe falam de medidas, quilos, porcentagens, calorias, número de refeições, x quilos a perder em y meses, quando, na realidade, o que o emagrecimento implica é um processo muitíssimo mais complexo.

Nos Estados Unidos está surgindo um poderoso movimento, que se chama Fat Acceptance. Seu objetivo é ajudar quem renunciou à dieta a aceitar o excesso de peso. Na falta de conseguirem perder peso, essas pessoas se acomodam a ele e tentam viver em paz com isso. Esse tipo de associação ainda não existe na França, provavelmente porque não corresponde ao temperamento dos franceses. No Brasil também não há notícias de que tenham sido criadas. Não obstante, será mesmo necessário aceitar a ditadura da magreza imposta pelas revistas femininas e pelas representações do corpo veiculadas pela moda, pela publicidade e pelo cinema?

Paradoxalmente, embora vivamos num mundo de opulência alimentar, parece que nunca estivemos tão preocupados com o que comer.

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